quinta-feira, 7 de novembro de 2024

A vitória de Trump não deveria fazer soar as campainhas entre os políticos portugueses?

 

O voto das confissões cristãs maioritárias (protestantes e católicos) foi significativamente para apoiar o candidato Donald Trump, nas eleições desta terça-feira, 5 de novembro, nos Estados Unidos da América, segundo dados colhidos em sondagens à boca das urnas, nomeadamente da Associated PressWashington Post e NBC News.

Em comparação com as eleições de 2020, os resultados do voto dos membros das diferentes confissões religiosas, captado por uma sondagem à boca das urnas, foram sensivelmente  parecidos com os deste ano, com exceção católicos. Isso terá ficado a dever-se ao facto de Joe Biden ser um católico assumido, o que o fez ganhar neste segmento específico a Trump por uma margem de cinco pontos percentuais.

Trump recebeu, nesta eleição, segundo dados da NBC News, o apoio de 62 por cento dos eleitores protestantes e outras denominações cristãs não católicas (contra Kamala Harris com 37 por cento) e 56 por cento dos católicos (41 por cento para a sua adversária). Na variável filiação religiosa, Harris conquistou apoios sobretudo entre os judeus, grupo minoritário, e, também entre os nones (aqueles que se dizem religiosos, mas não estão filiados numa confissão), que são o segundo grupo com mais peso e onde a candidata obteve 72 por cento (contra Trump com 25).

De um modo geral, quando se considera apenas os eleitores brancos, este quadro repete-se mas com uma vantagem acrescida de apoios para Donald Trump.

Numa análise mais fina, centrada no voto dos eleitores brancos que se afirmam evangélicos,  em comparação com todos os outros que não se definem como tal, o presidente eleito colheu 81 por cento dos votos (17 para Harris). Considerando os que se dizem não evangélicos, a posição inverte-se: Kamala Harris obtém 58 por cento e Trump apenas 38.

Os resultados de outras fontes, nomeadamente da Associated Press (AP), podiam variar um pouco dos apresentados, mas as tendências eram análogas.

O estudo da AP apurou que 61 dos eleitores católicos defenderam que o aborto deveria ser legal em todos ou na maioria dos estados e apenas 38 por cento consideraram que deveria ser ilegal. Para estes eleitores católicos, Kamala Harris era mais confiável para 46 por cento quanto à política que se propunha seguir relativamente ao aborto, ao passo que 36 por cento confiavam mais em Trump quanto a esta matéria.

Em contrapartida, os eleitores católicos confiavam mais em Trump do que em Harris na questão da imigração  (mais 25 pontos percentuais) e na economia (mais 19 pontos).  Os eleitores católicos consideravam (seis em cada dez) que Harris era muito extrema. Curiosamente uma percentagem idêntica tinha a mesma impressão acerca de Trump.

Ao analisar estes resultados, a Catholic News Agency recordou que Trump e o agora vice-presidente eleito, J.D. Vance, procuraram atrair o voto cristão, e em especial católico, nas últimas semanas. Trump acusou Harris de ser “destrutiva para o cristianismo”, enquanto que Vance publicou um artigo de opinião no Pittsburgh Post-Gazette, em que acusa Harris de “preconceito contra os católicos”.  Por outro lado, vários setores católicos não viram com bons olhos que a candidata democrata tenha faltado ao jantar que costuma ser organizado pela diocese de Nova Iorque, que reúne os candidatos e é pretexto para recolha de fundos para instituições sociais.

Fonte: aqui

Algumas notas pessoais:
1. Quando Trump concorreu contra um homem, perdeu - 2020. Quando o mesmo Trump concorreu contra mulheres, ganhou (2016 e 2024). Pode não ter grande significado, mas aconteceu. Penso que o problema não é dos concorrentes, mas pode ser da opinião pública. A mentalidade das  grandes sociedades tende ser ser cautelosa, apontando para o tradicional, o que evita sobressaltos, o mais seguro. As mudanças são lentas. E isto de ter uma mulher à frente da nação mais poderosa do mundo não agradará aos mais tradicionalistas....
2. Não fiquei nem contente nem seguro. Os fundamentalismos, sejam de direita ou de esquerda, são perigosos e de rejeitar.  Trump habituou-nos à imprevisibilidade , à mudança rápida, à mentira como forma de comunicar. Trump gosta de muros que dividem e quer construir mais, fechando os Estados Unidos à imigração. Trump não parece confiável, ainda mais agora que tem tudo a seu favor: Supremo Tribunal, Senado, Câmara dos Representantes. 
3. Há uma palavra que eu nunca ouvi na boca de Trump: DEMOCRACIA. Posso estar errado, mas nunca ouvi. E isto preocupa-me.  E os factos estão aí. Está por esclarecer o seu papel cabal na invasão do Capitólio... São conhecidas as suas resistências em aceitar resultados eleitorais quando perde...
4. No seu primeiro mandato, as relação entre ele e a União Europeia  foram tudo menos famosas. O "chapéu protetor" da América é importante para os europeus,  sujeitos como estão  a manias imperialistas de autocratas vizinhos, sobretudo Putin...
5. Há que aprender. Uma política desligada dos reais problemas das populações, abre caminho aos extremismos. A campanha de Trump focou-se muito nos problemas relacionados com a imigração e com o estado da economia.  E sabia que eram os grandes problemas que afetam o comum dos cidadãos americanos. 
Se entre nós não resolvermos os problemas da saúde, habitação,  economia e segurança não respondemos à situação do cidadão comum luso. 
- A saúde continua em estado calamitoso. Deixem-se de guerrinhas ideológicas. Querem lá os cidadãs saberes se são atendidos nos público ou no privado! O que querem é ser bem tendidos, a tempo e horas, e no respeito pela Constituição que fala num serviçode saúde tendencialmente gratuito.  Claro que sabemos do apetite  feroz dos privados por dinheiro. Mas aqui tem que entrar o  saber negocial estatal e a determinação pública, que  através de todos os meios legais disponíveis, denuncia e pressiona para que, também no privado, a pessoa esteja em 1º lugar.
- A habitação  tem que ser um desígnio nacional. E ontem já era tarde!
- Na segurança os políticos, todos menos os da extrema-direita, continuam a meter a cabeça na areia e a disparar a frase estafada e gasta: Portugal é um país seguro.  Não é! Ao menos que leiam os jornais...
- Se a economia não funciona, as crises não param de aumentar. É preciso que Portugal cresça, cresça, cresça. É preciso mais investimento, criatividade, modernização. São precisos melhores e mais justos ordenados e reformas. É preciso mais e melhor trabalho que exige melhor preparação e qualificação. Precisamos de gestores que não deem nas vistas pelos ordenados escandalosos que usufruem, mas pela qualidade com que dirigem as empresas. 

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