sexta-feira, 12 de agosto de 2022

GOSTO DE GENTE SÉRIA E SÁBIA…

Cada vez gosto mais daquela gente séria, que não se ri e que, segundo o povo, “fica de trombas, troce as beiças, morde a língua ou range os dentes”, quando as coisas não são ao seu gosto. Cada vez gosto mais daquela gente séria que se enche de razão para defender os seus interesses e destila ódio, maledicências ou vitupérios quando alguém não lhe apara o jogo ou lhe descobre a careca.
Cada vez gosto mais de gente sábia que é capaz de arranjar todo o tipo de desculpas (mentiras, encenações) para faltar à Missa, mas não se coíbe de gastar horas a fio em bares e arraiais, em passeios e aventuras por rios e montanhas. Cada vez gosto mais de gente sábia que empoleirada em sandice afetiva e intrujice mental faz dos outros (padres incluídos) pacóvios, retrógrados, desprovidos de inteligência, porque desalinhados com modas e manias bacocas.
Na sabedoria popular diz-se que “com papas e bolos se enganam os tolos”. Os romanos, para controlar o povo, davam-lhe “circo e pão”. Hoje não é diferente. Dar um telemóvel para a mão, “comes e bebes” para a barriga e música para as pernas e a turba salta eufórica de terra em terra, de galho em galho, a regurgitar folia e liberdade. O resto passa pelas redes sociais, onde se deleita com comentários e partilhas, declarações de amor e felicidade eternas. Para quem quer palco, todos os meios servem; para quem não tem prioridades, tudo tem o mesmo valor; para quem não tem vida própria, vive à custa do que lhe põem à frente.
E Deus? Gente moderna! Cada um tem a sua fé, a sua devoção, as suas rezas e negócios santos. Gente tão séria e sábia até muda a Doutrina e transforma “santificar domingos e festas de guarda” em “ir a Fátima e São Bento ao menos uma vez por ano”, promover festinhas e graçolas com gastos e feitos claramente ofensivos para os santos ou “ir à Missa" (apenas) quando o padre puser os queridos defuntos nas suas rezas encomendadas. E assim, gente séria e sábia, até é feliz a “ensinar o Pai Nosso ao vigário” e a pensar que “o sabem levar na cantiga”. E até se esquecem que “graças a Deus, muitas, graças com Deus, poucas”. E é tão verdade: “não ter tempo para Deus é viver perdendo tempo”.


P. António Magalhães Sousa, aqui

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