1. Esta é uma altura em que muito se fala do Estado Social e em que quase nada se diz sobre a Doutrina Social.
É normal que se fale do Estado Social, apesar do pouco que este já terá para oferecer. Mas é muito estranho que quase nada se diga acerca da Doutrina Social, não obstante o muito que ela ainda tem para dar.
2. O Estado Social parece estar em risco, por exaustão. A Doutrina Social dá sinais de estar ausente. Por demissão?
À Igreja não basta que dê o pão. Da Igreja espera-se que (também) erga a voz.
Nuno Teotónio Pereira assinala que «a Igreja faz muitas coisas para proteger os pobres. Mas devia ser mais firme na defesa de certos valores, sobretudo no campo social»!
3. Na sua missão, ela tem dois instrumentos essenciais: a acção e a palavra. Não deve renunciar a nenhum deles por muito que aposte no outro.
A situação de emergência social, que atravessamos, convoca, uma vez mais, a participação das comunidades cristãs. E, sobretudo através da generosidade de muitos leigos, tal participação tem sido assegurada.
4. Só que a Igreja de Jesus não pode limitar-se à acção junto das vítimas de um sistema desumano. Ela tem de questionar, em nome de Jesus, esse mesmo sistema.
Tem de usar, portanto, a palavra para que o poder seja inquietado e, se possível, transformado.
5. Até Bento XVI, logo na primeira encíclica, deixou bem claro que a insistência na caridade não impede que se lute pela justiça.
É preciso dar o pão e é urgente perguntar por que razão continua a faltar o pão na casa de muita gente.
6. Os membros da Igreja não hão-de esquecer que são representantes de alguém que, além de mestre, era um profeta.
E um profeta existe não para explicar os acontecimentos, mas para ajudar a transformar a realidade.
7. Dói um pouco, confesso, ver este entusiasmo todo com as romarias e, ao mesmo tempo, um conformismo tão grande com a persistente fome de tanta gente.
O mais que fazemos é dar do que nos sobeja. Já não é pouco. Mas é preciso (muito) mais. Só que perguntar por que as coisas estão assim parece não ser connosco. Incomodar o poder é, de facto, muito incómodo.
8. Este é um tempo favorável para ser o eco do clamor dos mais desfavorecidos.
O cardeal Carlo Maria Martini reconhecia, pouco antes de morrer, que «a Igreja está cansada. As nossas igrejas são grandes e estão vazias e o aparelho burocrático alarga-se».
A Igreja tem de ser o eco de Jesus, que, sendo para todos, escolheu sempre estar ao lado dos mais pequenos e oprimidos!
9. Em síntese, muito ganhará a Igreja se optar pela pobreza, pela simplicidade, pela humildade e pela opção pelos pobres.
Seguindo o paradoxo jesuânico, a Igreja ganha quando perde, eleva-se quando desce.
Há um longo caminho a percorrer. Que o caminho tenha muitos «viandantes»!
10. O grande teólogo Dietrich Bonhoeffer defendeu que «a Igreja só é Igreja quando existe para os outros». Para isso, «deve colaborar nas tarefas da vida humana, não dominando, mas ajudando e servindo».
Bonhoeffer morreu com este sonho. Tenho a certeza de que este sonho não morreu com ele. Continua à nossa frente. À espera de ser realizado!
João António Teixeira, Facebook
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