As crises criam oportunidades para redistribuir riqueza. Consoante as forças  políticas que as controlam, a redistribuição irá num sentido ou noutro.  Imaginemos que a redução de 15% do rendimento aplicada aos funcionários  públicos, por via do corte dos subsídios de Natal e de férias, era aplicada às  grandes fortunas, a Américo Amorim, Alexandre Soares dos Santos,  Belmiro de Azevedo, Famílias Mello, etc. Recolher-se-ia muito mais dinheiro e  afectar-se-ia imensamente menos o bem-estar dos portugueses. À partida, a  invocação de uma emergência nacional aponta para sacrifícios extraordinários que  devem ser impostos aos que estão em melhores condições de os suportar. Por isso  se convocam os jovens para a guerra, e não os velhos. 
Não estariam os  super-ricos em melhores condições de responder à emergência  nacional?  Esta é uma das perplexidades que leva os  indignados a manifestarem-se nas ruas. 
Mas há muito mais. Perguntam-se muitos  cidadãos: as medidas de austeridade vão dar resultado e permitir ver luz ao  fundo do túnel daqui a dois anos? Suspeitam que não porque, para além de irem  conhecendo a tragédia grega, vão sabendo que as receitas do FMI, agora adoptadas  pela UE, não deram resultado em nenhum país em que foram aplicadas – do México à  Tanzânia, da Indonésia à Argentina, do Brasil ao Equador – e terminaram sempre  em desobediência e desastre social e económico. 
 Boaventura de Sousa  Santos, in Visão 20 Outubro 2011
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